Até quando a Lagoa de Piratininga sofrerá com a mortandade de peixes?

Niterói mais uma vez sofre com a mortandade de peixes na Lagoa de Piratininga. Imagens recebidas pelo Portal Agora RJ no último final de semana mostram milhares de peixes mortos em uma das regiões que deveriam ser de maior preservação ambiental na cidade. Além da causa, qual a solução para um problema como esse, que afeta gravemente a natureza?

Para Lidiane Vieira, da Colônia de Pescadores de Itaipu, um dos grandes problemas é a falta de cuidado ambiental das autoridades com os rios e lagoas da cidade. O fechamento de dois canais importantes, o da lagoa de Itaipu e do túnel do tibau, que fazem a ligação direta da lagoa de piratininga com o mar, faz muita diferença.

“Acredito que seja o assoreamento (Acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica no fundo de um rio. O fenômeno geralmente acontece quando o curso d’água não possui matas ciliares) e fechamento do canal da lagoa de Itaipu e do túnel do Tibau. Como que as Lagoas vão ter as trocas de águas e oxigenação das Lagoas?  O calor e o esgoto também colaboram bastante para que a mortandade aconteça.”

Essa foi a segunda mortandade em menos de um mês. A última ocorreu no dia 27 de Dezembro. A reportagem ouviu também o ecólogo Mário Moscatelli que apontou também diversos problemas que afetam o ecossistema da lagoa:

“O caso da lagoa de Piratininga, uma das lagoas que eu suponho ser uma das mais estudadas por pesquisadores da região metropolitana do Rio de Janeiro é o caso típico que assola as demais lagoas que sobraram nessa mesma região. Troca dágua insuficiente com o mar, lançamento de esgoto, assoreamento intenso e para finalizar um verão que já era esperado como um verdadeiro maçarico. Pronto, você tem todos os ingredientes necessários, somados e potencializados para uma queda veritiginosa de oxigênio na água e quem depende desse elemento, morre.”, afirmou.

Qual a solução? 

Para Moscatelli, a receita é inevitável: eliminar e fiscalizar as potenciais contribuições de esgoto, restabelecer uma troca de água com o mar de forma eficiente; Limpeza dos trechos mais sujos da lagoa.

“Provavelmente seguindo esse protocolo, as mortandades irão ser reduzidas ou mesmo neutralizadas. Não há mágica, apenas ações concretas nas causas que individualmente ou de forma acumulativa, geram falta de oxigênio na coluna d´água e morte dos peixes.”, concluiu o especialista, que está envolvido também na recuperação do sistema lagunar de Jacarepaguá e no gerenciamento ambiental da lagoa Rodrigo de Freitas além da recuperação de manguezais em vários trechos degradados entre as baías de Guanabara e Ilha Grande.

Para Lidiane, que bem como a aldeia de pescadores, depende muito da pesca, a solução também passa pela atenção das autoridades nas obras dos canais de Itaipu e do Tibau.

“Enquanto as autoridades,os órgãos competentes não darem a verdadeira atenção as obras de dessasoreamento das Lagoas e as obras do canal de Itaipu e Túnel do tibau vamos ter mais e mais mortandades de peixes e a nossa classe pesqueira sofrendo cada dia mais com a escassez dos pescados nas lagoas de Itaipu e Piratininga.”, concluiu.

Procurada pela reportagem, a Águas de Niteroi não se manifestou.

O INEA disse em nota que o projeto para as obras de melhorias estruturais do Túnel do Tibau obteve aprovação de recursos por parte do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam) em dezembro de 2023.

Com relação à mortandade de peixes e à qualidade da água o Inea disse que realiza fiscalizações em conjunto com a concessionária Águas de Niterói para apurar ligações irregulares que resultam no descarte de efluentes na lagoa que contribuem para a piora da qualidade ambiental do sistema. Além disso, ressalta-se que está realizando estudos para obras de recuperação ambiental no local.

A Prefeitura de Niterói disse que que está trabalhando para desobstruir a ligação do Túnel do Tibau, que já fez o projeto e que o valor será de R$28,5 milhões de reais. Atualmente o processo se encontra em estágio de captação de recursos.