Resposta ao Artigo “Por um limite nos placares entre equipes de iniciação esportiva no Brasil”

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Por Samuel HS Belarmino

O objetivo desse artigo de opinião é encontrar soluções para as questões levantadas no artigo denominado “Por um limite nos placares entre equipes de iniciação esportiva no Brasil”, de autoria do Professor Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro.


De início, gostaria de considerar que a reflexão é legítima. De fato, placares muito elásticos podem ser desmotivadores para os atletas em formação. No entanto, acredito que a solução não esteja em limitar a diferença no placar, mas sim em aprimorar o critério de balizamento técnico antes do início das competições.


Em torneios de base a partir dos 13 anos de idade, por exemplo, poderia existir um critério mais rigoroso para a formação dos grupos das equipes competidoras, garantindo que as equipes jogassem contra adversários de nível semelhante.

Isso, porém, exige um compromisso ético por parte dos técnicos e dirigentes, que precisariam classificar suas equipes de maneira honesta, sem buscar vantagens artificiais ao se inscreverem como times de nível inferior, apenas para enfrentar adversários mais fracos e obter classificações mais “fáceis”.


Além disso, como o artigo ora em tela sugere, interromper um jogo ao se atingir um determinado placar pode ser tão complicado quanto perder por uma grande diferença de gols.

A mensagem que se passa não é de aprendizado, mas de exclusão, como se o time derrotado fosse incapaz de suportar o jogo até o fim. O esporte deve ensinar superação, resiliência e respeito, e não criar um ambiente onde se parece que estamos a proteger os jogadores da realidade da competição.


Já para as categorias abaixo dos 12 anos, penso que, em alguns casos, nem competição propriamente dita deveria existir. Há muito tempo, no basquete do Rio de Janeiro, utilizava-se um modelo interessante: todas as crianças até 12 anos se reuniam periodicamente em diferentes clubes, em um formato de revezamento de sedes.

Durante esses encontros, elas recebiam treinamentos de fundamentos e, ao final, eram divididas por nível técnico em grupos (bandeiras de diferentes cores), sendo essa divisão feita em conjunto pelos técnicos de todos os clubes participantes. Os jogos aconteciam dentro desse formato, sem a necessidade de cada criança representar um clube específico.

A partir dos 13 anos, então, cada atleta voltava a defender seu clube, agora já mais preparado técnica e emocionalmente para competições oficiais. Esse modelo favorecia o desenvolvimento esportivo sem a pressão precoce por resultados, e poderia ser uma referência para o futebol de base e outros esportes coletivos.


Vale lembrar também que a Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha, já ultrapassou há muito tempo o status de torneio meramente formativo. Hoje ela é uma referência para olheiros de todo o Brasil e, em alguns casos, até do mundo. Muitas equipes participantes não são mais amadoras; pelo contrário, possuem estrutura profissional e investem alto na captação e desenvolvimento de talentos.


Se quisermos realmente melhorar o esporte de base no Brasil, o caminho deve ser a construção de um ambiente competitivo mais equilibrado desde a fase de planejamento, garantindo que crianças e adolescentes passem por uma formação adequada antes de enfrentarem desafios mais exigentes.


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